No dia em que o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, prestou depoimento para a Polícia Federal, por suspeita de envolvimento em crimes como terrorismo, golpe de Estado e associação criminosa, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmaram à coluna que o político vai permanecer em Orlando, nos Estados Unidos, e não tem data para voltar ao Brasil. Anderson ficou em silêncio durante a oitiva no 4º Batalhão da PM (Guará), onde está preso desde sábado (14/1).
Com o cerco jurídico em torno do capitão reformado cada vez mais apertado, assessores temem que Bolsonaro seja alvo de medidas expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
No Brasil, o ex-mandatário encontraria um clima pesado e teria de conviver com a repercussão do quebra-quebra histórico que militantes dele promoveram em Brasília no dia 8 de janeiro. Já nos Estados Unidos, Bolsonaro escolhe os temas a serem tratados com os apoiadores, que abrem mão de assuntos espinhosos e priorizam as selfies e vídeos para as redes sociais.
Bolsonaro desembarcou na Flórida no dia 30 de dezembro. Desde então, segue hospedado com a família e assessores na mansão do ex-lutador do UFC José Aldo. O atleta, que atualmente está no Rio de Janeiro, foi um dos lutadores que declararam voto em Bolsonaro nas eleições de 2022, quando o atual presidente acabou derrotado por Lula.
Tombo virtual
Nas redes sociais e aplicativos de troca de mensagem, ambientes onde Bolsonaro sempre se movimentou com destreza e onde conquistou alcunha de “mito”, a situação tem se deteriorado desde a eleição, muito em consequência do isolamento a que o ex-presidente se autoimpôs, com poucas aparições desde o fim de outubro.
Em grupos bolsonaristas monitorados pela reportagem em aplicativos como WhatsApp e Telegram, a movimentação e a distribuição de material de propaganda foram drasticamente reduzidas, sobretudo desde a iniciativa frustrada de insurreição promovida em Brasília pelos militantes.
A disposição do Poder Judiciário para suspender perfis nas redes de influenciadores digitais bolsonaristas acusados de estimular os atos antidemocráticos também tem resultado em um esfriamento do apoio virtual ao ex-presidente.
Com esses reveses, no Índice de Popularidade Digital calculado pela empresa de pesquisa Quaest, o desempenho de Bolsonaro, que chegou a alcançar 88 ao longo da campanha eleitoral, numa escala que vai de 0 a 100, caiu para entre 60 e 40 após sua derrota e despencou para a casa dos 20 pontos na última semana, após o ataque de bolsonaristas a Brasília.
Cerco jurídico
Para além das redes, porém, são as ameaças jurídicas que mais assustam Bolsonaro e seu entorno. E a temperatura subiu muito com os acontecimentos dos últimos dias: o ataque a Brasília; a postagem pelo ex-presidente, dois dias depois, de um vídeo questionando o sistema eleitoral; e da notícia da apreensão, na casa do ex-ministro Anderson Torres, do rascunho de um decreto golpista prevendo uma intervenção federal no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Além dos processos em que Bolsonaro já era investigado, tanto no TSE quanto no STF, os acontecimentos recentes motivaram o PSOL a pedir ao Supremo sua prisão preventiva e a suspensão de suas redes sociais. Um grupo de 80 procuradores da República também demandou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, uma investigação criminal contra Bolsonaro por incitação ao crime, citando ataques dele às instituições democráticas ao longo dos últimos anos e o vídeo publicado e apagado horas depois, no último dia 10.
E, no início da noite da última sexta (13/1), o Supremo Tribunal Federal incluiu Bolsonaro no inquérito que apura a instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos que resultaram em episódios de vandalismo e violência em Brasília.
O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal, que acusa Bolsonaro de incitar a prática de crime ao postar vídeo em 10 de janeiro questionando a lisura das eleições presidenciais de 2022.
Bolsonaro também enfrenta ao menos 16 Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aijes), que correm no TSE e podem tirar seus direitos políticos.
Elas questionam o comportamento do ex-presidente de apostar no descrédito das instituições democráticas e o acusam de abuso de poder econômico e político, além de uso indevido dos meios de comunicação social.
O Metrópoles apurou que os advogados do PT cogitam incluir eventuais novas provas nessas ações que tramitam no TSE contra Bolsonaro. No entanto, eles entendem que é preciso esperar que as investigações avancem, para verificar se houve ligação do ex-presidente com a minuta de decreto golpista e qual o grau de envolvimento.
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