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Não é desta oposição que o País precisa

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Nos regimes democráticos, a oposição tem um importantíssimo papel de controle, de contraditório e de proposição a realizar no debate público e na arena política. Se isso se aplica a todos os governos, pode-se dizer que a perspectiva próxima de um presidente da República do PT faz com que a oposição se torne ainda mais necessária para o País. Diante do histórico petista no Executivo federal, ter uma oposição organizada e qualificada é item de primeira necessidade.

Por isso, o anúncio, feito pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de que a legenda – que, em 2023, terá as maiores bancadas na Câmara (99 deputados) e no Senado (14 senadores) – será oposição ao governo Lula deveria representar, a princípio, uma excelente notícia para o País. Ao mesmo tempo, o candidato do PL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, teve mais de 58 milhões de votos no segundo turno. Ou seja, pelos resultados obtidos nas eleições de 2022, a legenda de Valdemar Costa Neto estaria mais que qualificada a liderar e organizar a oposição ao governo petista a partir do ano que vem.

No entanto, a aparente boa notícia desfez-se imediatamente quando o presidente do PL explicou os termos em que se dará a oposição da legenda a Lula da Silva. Primeiro, Valdemar Costa Neto esquivou-se de reconhecer o resultado das eleições presidenciais, alegando que era necessário esperar o resultado da fiscalização das urnas eletrônicas realizada por militares, para, segundo disse, “ver se tem alguma coisa consistente” para que Bolsonaro “possa questionar o TSE” – como se a lisura das eleições não tivesse sido atestada pela Justiça Eleitoral e por todos os demais observadores.

Ora, com esse comportamento o presidente do PL flerta abertamente com atitudes antidemocráticas e antirrepublicanas, o que é inadmissível. Ao não admitir expressamente a vitória de Lula sobre Bolsonaro no segundo turno, o PL, na figura de seu líder máximo, colocou-se à margem dos trilhos institucionais e em confronto com a Constituição. Não serve rigorosamente para nada de bom uma oposição golpista.

Em segundo lugar, Valdemar Costa Neto explicitou, com todas as letras, que sua parceria com Jair Bolsonaro não tem nenhum conteúdo programático. É meramente eleitoreira. Na terça-feira passada, o presidente do PL já anunciou inclusive que Jair Bolsonaro será o candidato da legenda nas eleições presidenciais de 2026. Eis o PL em ação, manifestando sua mais genuína natureza: nem sequer terminou o atual mandato presidencial e a atenção de Valdemar Costa Neto já está voltada para o próximo pleito.

De forma a não deixar dúvidas sobre as intenções eleitoreiras, o presidente do PL ainda afirmou que espera contar com Bolsonaro para impulsionar as candidaturas da legenda nas próximas eleições municipais, em 2024. “É muito importante que ele (Jair Bolsonaro) corra o Brasil, (…) para que a gente consiga atingir os nossos objetivos”, disse Valdemar Costa Neto. Não se ouviu menção a nenhum conteúdo programático, a não ser uma vaga e esdrúxula oposição ao “comunismo”. Foi puro e descarado pragmatismo eleitoral.

É desolador para o País que o maior partido do Congresso admita, sem nenhum rubor, que fará uma oposição golpista e meramente eleitoreira. Tem-se, assim, a certeza de que não é dessa oposição que o País precisa. Nenhuma legenda que esteja refém da retórica bolsonarista contra o sistema eleitoral e atue pensando exclusivamente em votos será capaz de fazer a oposição madura, responsável, combativa e democrática que o interesse público nacional demanda.

“O Bolsonaro é o nosso capitão, nós vamos segui-lo no que for preciso”, disse Valdemar Costa Neto, confirmando que a legenda continuará alheia, nos próximos anos, ao debate civilizado, à negociação política e à discussão de propostas. Afinal, o bolsonarismo atua noutra lógica: a do conflito, da agressão e da antipolítica.

Com essas palavras de submissão, o presidente do PL revelou mais um efeito deletério do bolsonarismo na vida política nacional. Jair Bolsonaro não apenas conseguiu que Lula, malgrado todos os males que causou ao País, voltasse à Presidência da República, como está destruindo desde já a capacidade da maior legenda no Congresso de ser oposição aos petistas. Esta é a realidade: Bolsonaro estraga tanto o governo como a oposição.

 

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

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