A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse ontem que o governo estuda criar um banco de currículos de pessoas pretas para que os ministérios da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenham mais diversidade racial em sua composição. A afirmação foi feita depois que a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), relatou dificuldades para levar mulheres pretas para trabalhar na pasta em Brasília, o que gerou repercussão nas mídias sociais.
Na quarta-feira, Tebet afirmou que mulheres pretas geralmente são arrimo de família e, com isso, é difícil tirá-las de suas cidades. A titular do Planejamento explicou ainda que o salário oferecido pela pasta não é bom o suficiente, o que, em sua avaliação, não as encoraja a mudar para a capital federal, onde fica a sede do Poder Executivo.
Em resposta, Anielle disse que está conversando com a ministra para resolver esse problema. “Eu já apresentei para ela [Simone Tebet] algumas ideias e a gente vai falar mais adiante. Eu não posso falar ainda, mas uma delas, por exemplo, que foi ideia do nosso ministério, é a gente ter inclusive um banco de pessoas, currículos, público mesmo, em ligação com ministérios transversais, para que a gente possa vir a preencher todas essas vagas”, disse Anielle.
A ministra falou sobre o assunto após comparecer à cerimônia de posse da própria Simone Tebet, no Palácio do Planalto. “Já me coloquei à disposição da ministra, e trabalharemos juntas em estratégias que ampliem diversidade na composição dos ministérios. E que seguiremos trabalhando para evidenciar os talentos que o Brasil do futuro produz todos os dias. Eles precisam, elas precisam estar do nosso lado”, complementou a ministra.
Na saída do evento, Tebet foi questionada sobre a repercussão de sua fala e acrescentou que está recebendo ajuda de especialistas e pessoas engajadas no tema, como o diretor-geral da Educafro, frei David Santos, além da própria ministra da Igualdade Racial.
“Nós já temos uma lista. Frei David me ajudou. Anielle [também ajudou]. Foi bom que agora está vindo um monte de currículo. Estou achando ótimo”, disse Simone ao portal G1.
Anielle aproveitou o tema para lembrar que as mulheres negras sempre estiveram na “linha de frente de construção do país, com dedicação e cuidado”.
“Agora, estando aqui no serviço público, servindo nosso povo, não vai ser diferente”, pontuou ela. “Quando uma mulher negra se move, toda a estrutura da sociedade se move junto. Estamos trabalhando muito pra garantir que nossa ocupação legítima seja uma realidade nesse governo. Vamos juntos por justiça e reparação em todos os lugares.”
Irmã da vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco, do Psol, assassinada em 2018 em um crime de mando até hoje não esclarecido, Anielle foi criada no Complexo da Maré (RJ) e estudou em universidades americanas como a North Carolina Central University e a Florida A&M University, duas instituições reconhecidas pelo seu histórico de presença negra. Ela é bacharel em jornalismo, inglês e mestre nestas duas áreas, além de mestranda em relações étnico-raciais. Após o assassinato de Marielle, Anielle passou a se dedicar também ao Instituto Marielle Franco.
Fonte: Valor Econômico
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