Os fatos têm exigido do presidente Lula da Silva a compreensão de que não há caminho que conduza ao desenvolvimento do País sem uma obrigatória aproximação com o agronegócio, setor que tantas vezes o petista buscou desqualificar. Ciente de que o maior prejuízo do aprofundamento dessa querela recairia negativamente sobre os resultados de seu terceiro mandato, Lula tem movimentado todo o governo para construir pontes com os ruralistas. A divulgação do Plano Safra 2023-24, prevista para os próximos dias, será o tour de force desse empenho.
Antes de viajar para a Europa, o presidente, em reunião com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), insistiu na importância de um plano “robusto” para a próxima safra e na pacificação das relações do governo com o agro, como destacou a Coluna do Estadão. Uma admissão tardia de que cerrar fileira com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos desmandos que o movimento promove a título de reforma agrária significa oficializar a desordem – o que seria péssimo para o País e para seu governo.
A declaração do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), à saída de um almoço em que o ministro Teixeira transmitiu as orientações de Lula, deixa claro que há espaço para entendimento, desde que o governo permita ao setor continuar atuando sem sobressaltos. “Ele (Lula) parou de sinalizar ao MST e não nos chamou mais de fascistas. São gestos. Porque não adianta só palavra, é preciso atitude”, afirmou.
Se o governo não atrapalhar, já estará ajudando muito a manter a potência do setor que vem sustentando a economia nacional. Uma constatação que não veio de agora, com a divulgação do crescimento de 21,6% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no primeiro trimestre, que garantiu o avanço de 1,9% do PIB total no período. O setor, que corresponde a 25% do PIB, vem carregando há anos o desempenho brasileiro. Sem o agro, o saldo total de crescimento no primeiro trimestre teria ficado em torno de 0,5%.
A distância regulamentar de Lula da Silva em relação ao MST é o mínimo que se pode esperar de um presidente da República. Gestos como a inclusão do chefe do MST, João Pedro Stédile, na comitiva presidencial, como ocorreu na viagem à China, em abril deste ano, são inaceitáveis. Os produtos agrícolas estão no topo da lista das exportações brasileiras para a China, nosso principal parceiro comercial. Natural e oportuna, portanto, uma missão de empresários do agronegócio numa viagem oficial. Mas é totalmente fora de contexto e até provocativa a presença de Stédile.
Naquele mês, como ocorre anualmente no chamado “Abril Vermelho”, o MST promoveu invasões de fazendas, de área de preservação ambiental da Embrapa e de sedes do Incra, incitando distúrbios, e o que se viu foi um governo acuado e sob pressão. Na CPI sobre o MST na Câmara, representantes dos ruralistas tentam apurar os financiadores das ocupações. O mais importante, porém, é estabelecer punições rigorosas para os invasores. E fazer valer, ao menos, o que diz o Código Penal. Invasão de terras é um crime para o qual são aplicadas penas de até três anos de prisão.
Ao inaugurar, com o uso questionável do aparato estatal da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o seu programa semanal à Bolsonaro, Lula da Silva defendeu o fim das ocupações numa declaração que pareceu mais um apelo do que uma determinação, como caberia ao mandatário. “Eu disse para o Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário) esses dias: não precisa mais invadir terra”, disse, para emendar que cabe ao Incra fazer o levantamento das terras improdutivas para fins de reforma agrária. O Incra teve substituídas chefias em 19 Estados após as invasões de abril. Parte considerável delas agora é formada por aliados do MST.
Os sinais do governo Lula da Silva para o setor precisam passar muito mais confiança, o que requer um prudente – e urgente – distanciamento ideológico.
Fonte: Coluna Opinião – Estadão
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