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A Elite que se Acha Pobre

Acredito que todos já saibam do grande escândalo da semana, o assunto que não sai das rodas de conversa. Isso mesmo, vou falar sobre os: péssimos salários dos promotores do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que giram em torno de “apenas” 25 a 51 mil reais.

Sim, segundo vazamentos de prints de um grupo do WhatsApp nomeado “Equiparação Já”, funcionários do MPSP reclamam que seus salários são muito inferiores aos de magistrados, citando inclusive a compra de carros de luxo por colegas da carreira.

Várias coisas nessa história são bizarras, mas um ponto em especial me chama atenção. Em determinado momento dos prints, um dos membros do grupo afirma se sentir pertencente a uma “classe inferior”, dizendo que estão mais próximos dos analistas do que dos magistrados, uma espécie de tipificação de classes sociais, quase como um sistema de castas.

Impressiona como algumas pessoas conseguem se considerar parte de uma casta elitizada, ou até mesmo endeusada. É claro que isso não é exclusividade do serviço público, mas a internet está inundada de exemplos, e até de memes, que mostram como o servidor público no Brasil frequentemente se descola da sociedade. Muitos se trancam em suas torres de marfim, empunhando o poder do Estado, mas esquecem que quem sustenta o governo é a própria sociedade.

O fato é que existe um grupo restrito de servidores que desfruta de supersalários, privilégios e vantagens financeiras significativas, frequentemente acima do teto constitucional, concentrados em órgãos como o Judiciário, o Ministério Público e o Congresso. Essa elite contrasta com a grande maioria dos servidores e com a qualidade dos serviços prestados à população, que são frequentemente precarizados e defasados.

Mas, com as possibilidades tão limitadas no Brasil, esse tipo de oportunidade acaba se tornando uma bóia de salvação, onde milhares de pessoas se lançam em busca do seu lugar ao sol.

O problema é que muitos dos que conseguem parecem passar por uma transformação profunda no ato da posse, tornando-se quase semideuses (ou pelo menos é assim que alguns se veem). O descolamento da realidade é tão grande que vemos juízes defendendo auxílio para terno, carros de luxo e até legislando retroativamente em benefício próprio; policiais flagrados pelas próprias câmeras corporais furtando itens durante uma revista; e médicos simplesmente faltando ao serviço em hospitais públicos, mesmo com as assinaturas registradas nas folhas de ponto.

Os serviços e servidores públicos são essenciais para a sociedade e sabemos que existem inúmeras dificuldades em prestar esses serviços. Mas só teremos qualidade quando os servidores entenderem que são pessoas comuns, que têm nas mãos as ferramentas para melhorar a vida de outras pessoas comuns, e não apenas as suas.

*Fernando Gramulha é empresário

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