O número de alertas de desmatamento na Amazônia Legal em fevereiro deste ano atingiu o maior nível da série histórica feita pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo o órgão, foram 322 km², um recorde para o mês desde quando a estatística passou a ser realizada, em 2015.
Os dados do instituto foram consolidados pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Em relação a fevereiro do ano passado, quando o Inpe detectou 198,7 km² de alertas de desmatamento na região, o crescimento foi de 60%. De acordo com ambientalistas, o governo federal tem de tomar atitudes para impedir que o cenário se repita nos próximos meses.
Durante a campanha presidencial e desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a questão ambiental tem sido usada como uma espécie de “vitrine” do novo governo para a comunidade internacional. Os dados apresentados pelo Inpe, porém, não corroboram o discurso da nova gestão.
Para o presidente do Conselho de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Pará, Deryck Martin, o momento é de o governo trocar o discurso por ações firmes e concretas de combate ao desmatamento. “O governo federal tem trabalhado com um discurso muito forte, muito presente, de combate aos ilícitos ambientais, de combate ao desmatamento. Agora, é fundamental que esse discurso possa se converter em práticas, em atividades efetivas que cheguem até a ponta”, afirma.
O governo federal tem trabalhado com um discurso muito forte, muito presente, de combate aos ilícitos ambientais, de combate ao desmatamento. Agora, é fundamental que esse discurso possa se converter em práticas, em atividades efetivas que cheguem até a ponta.
DERYCK MARTIN – PRESIDENTE DO CONSELHO DE MEIO AMBIENTE DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO PARÁ
Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bocuhy, mesmo passados mais de dois meses do início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda não é possível dizer que o país adotou uma nova política de controle de desmatamento. “Deveria ter havido um elemento pedagógico na sinalização do governo, que coibiria esse avanço de desmatamento”, afirma.
Segundo ele, o Executivo precisa dar uma resposta rápida para não manchar a imagem do país no exterior, principalmente com relação às ações para reduzir as emissões de carbono. “A floresta está indo embora e deixando de ter a capacidade de sequestrar carbono. Os números precisam mudar. Caso contrário, vamos perder a Amazônia e parar de contribuir com a questão climática.”
Atrativo para investimentos estrangeiros
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, acrescenta que, caso não reverta os índices de desmatamento nos próximos meses, o governo precisa demonstrar que está tentando preservar a Amazônia, sobretudo em um momento em que busca atrair investimentos estrangeiros para o Fundo Amazônia.
“Essas estatísticas são sempre ruins, porque, quando há um número negativo, o país tem que se dar o porquê de mais emissões de gases de efeito estufa. Isso também põe o Brasil em uma situação frágil de negociações internacionais”, diz.
Essas estatísticas são sempre ruins, porque, quando há um número negativo, o país tem que dar o porquê de mais emissões de gases de efeito estufa. Isso também põe o Brasil em uma situação frágil de negociações internacionais.
MARCIO ASTRINI, SECRETÁRIO-EXECUTIVO DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA
“Nesse primeiro ano, a avaliação internacional vai ser em cima das ações do governo e de medidas fortes e eficientes para o combate ao desmatamento. O prejuízo para a floresta é enorme. Estamos perdendo biodiversidade. O prejuízo causado não tem recuperação”, completa Astrini.
Fonte: R7
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