O Brasil tem visto alta de casos da covid-19, assim como nos Estados Unidos, na Europa e na China. Diante da nova onda, outros países, como a Itália, e parte das cidades brasileiras já ampliam a indicação da 5ª dose. Médicos ouvidos pelo Estadão, porém, defendem aumentar as coberturas com a 3ª e a 4ª injeção, mas não veem necessidade de ampliar o público que toma a 5ª – hoje restrita a imunossuprimidos, como pacientes oncológicos ou transplantados.
As coberturas para a 3ª injeção de reforço no País são de 48,9% e, para a 4ª, de 16,2%. A proporção de crianças imunizadas com ao menos uma dose também é considerada baixa: de apenas 52,5%, na faixa de três até onze anos. Outras recomendações dos especialistas, sobretudo para grupos mais vulneráveis, é usar máscaras em ambientes fechados e evitar contato em caso de sintomas gripais.
Há cidades que já ampliaram a 5ª dose para públicos mais amplos, a exemplo de Limeira (SP), que oferece para todos com mais de 50 anos, e Tatuí (SP), que recomenda para todos os adultos. A cidade do Rio de Janeiro também quer estender a recomendação para todos, após confirmar a circulação da subvariante da Ômicron BQ.1 no fim de semana. A Itália, em outubro, decidiu dar a 5ª dose para os idosos com mais de 80 anos.
O Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo informou que não há orientação para os municípios aplicarem a 5ª dose para a população em geral, só para imunodeprimidos sob avaliação clínica. A Secretaria de Saúde do Estado informou que aplica, atualmente, a 5ª injeção em imunossuprimidos com 18 anos ou mais e, também, na população em geral, com idade igual ou superior a 40 anos, que tenham iniciado o esquema vacinal com a Janssen.
Alexandre Naime Barbosa, infectologista, professor e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, não vê necessidade de 5ª dose para todos. “Em pacientes imunossuprimidos, o esquema básico é considerado com três doses, mais duas de reforço, totalizando cinco. Já na população em geral, o esquema básico são duas doses e então temos as doses 3 e 4 de reforço”, explica.
“Mais importante do que ampliar doses para 5ª e 6ª doses, é garantir cobertura alta de 4ª dose para pessoas acima de 40 anos” diz Julio Croda, médico infectologista da Fiocruz. “O importante é que a maioria das pessoas tenha tomado uma dose de reforço nos últimos quatro meses”, enfatiza.
Outra estratégia para conter a nova subvariante é o uso da vacina bivalente da Pfizer, atualizada para as cepas do vírus identificadas mais recentemente. Estudos preliminares já mostraram que essa nova versão do vírus tem maior chance de escapar da proteção oferecida pelos imunizantes já aplicados.
“A BQ.1 tem escape de reposta imune maior e já temos dados dela sobre anticorpo neutralizante, que está relacionado à proteção contra infecção. Dessa forma, fica claro que a vacina bivalente garante maior nível de anticorpo neutralizante e, portanto, maior proteção para a BQ.1″, afirma Croda.
Um pedido de autorização para uso emergencial da vacina ambivalente no Brasil foi feito pela Pfizer à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro, mas ainda não foi avaliado. Em nota, a farmacêutica disse que ainda está investigando a efetividade do imunizante bivalente contra a subvariante BQ.1 e espera ter dados concretos em breve.
Procurada, a Anvisa disse que “os processos estão em fase final de análise pela área técnica, para posteriormente serem encaminhados à diretoria” para deliberação. A vacina ambivalente já está disponível na Europa, Estados Unidos, Japão, Argentina, Chile, entre outros países.
Em nota, o Ministério da Saúde disse monitorar a evolução das coberturas vacinaispara todas as faixas etárias. Até a tarde desta segunda-feira, 7, mais de 519 milhões de doses foram distribuídas de forma proporcional para o todo o País, afirma a pasta. Ainda conforme o órgão, a importância do reforço é reforçada por meio de campanhas.
Para Evaldo Stanislau, infectologista do Hospital das Clínicas da USP, também é preciso acelerar a vacinação das crianças na faixa de seis meses a dois anos. O imunizante já foi comprado pelo governo federal em outubro, mas as doses devem ser distribuídas só nesta semana. “Seria importante fechar as portas para o vírus em populações que facilitam a sua disseminação, como é o caso da pediátrica, antes de falarmos em ampliar a 5º dose para a população como um todo”, alerta.
É preciso avaliar uso de máscaras, dizem especialistas
Segundo Alexandre Naime Barbosa, é recomendado que cada um faça uma avaliação individual de risco e adote cuidados baseados na sua condição de saúde. A orientação é de que idosos acima de 75 anos, pessoas que passaram por transplante de órgão recente, pacientes com doença de lúpus e imunossuprimidos, em geral, evitem aglomerações e utilizem máscaras sempre que tiverem contato com outras pessoas.
Em Pernambuco, a Secretaria de Saúde voltou a recomendar máscaras para idosos, imunodeprimidos e pessoas com sintomas gripais, após verificar aumento de infecções. Em Recife, a taxa de testes positivos subiu de 15,5% na última semana de outubro para 25,1% na primeira semana de novembro. “Quem está com sintoma gripal deve usar máscara, fazer testagem para a doença e cumprir o tempo de isolamento. Idosos e imunodeprimidos também devem usar protetor facial”, recomendou o secretário estadual da Saúde, André Longo.
O Rio Grande do Sul, outro local onde a circulação da variante BQ.1 já foi confirmada, também recomenda máscara para os imunocomprometidos, idosos e pessoas com comorbidades em locais fechados ou pouco ventilados. Também devem usar a proteção quem está com sintomas respiratórios ou tem contato com pacientes confirmados para covid-19.
Pessoas com condições de saúde normais e que não são idosas devem usar máscara apenas em ambientes fechados, com aglomeração e sem circulação de ar. Se infectadas, devem utilizar máscaras sempre que tiverem contato com outras pessoas.
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