fbpx

Desvario de Putin cobra seu preço

Início » Desvario de Putin cobra seu preço

O autocrata russo, Vladimir Putin, escalou suas ameaças. O Kremlin mobilizou 300 mil reservistas, declarou que realizará referendos em Donbas para justificar uma anexação e renovou suas chantagens nucleares. Mas o que deveria ser uma demonstração de força é uma indisfarçável prova de fraqueza.

As bravatas de Putin são uma reação ao contra-ataque ucraniano que acaba de recobrar extensos territórios. Foi a maior derrota de Putin desde que foi obrigado, em abril, a abandonar seu plano original de uma ocupação massiva que pusesse o regime ucraniano de joelhos, concentrando esforços no sul e no leste. Nas fronteiras da Rússia, irromperam conflitos armados entre a Armênia e o Azerbaijão e entre o Quirguistão e o Tajiquistão. Na Rússia, as críticas dos ultranacionalistas se intensificam.

O escasso apoio internacional se desgasta. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse nesta semana que a Rússia precisa abandonar o território ucraniano, incluindo a Crimeia. O premiê indiano, Narendra Modi, disse a Putin, cara a cara, no Conselho de Cooperação de Xangai, que “os tempos não são de guerra”. No mesmo encontro, Putin admitiu publicamente ao ditador chinês, Xi Jinping, que responderia às suas “questões e preocupações”.

Na última vez em que se encontraram, a três semanas da invasão, Xi declarou uma amizade “sem limites” com a Rússia. Uma vitória rápida teria servido à China, humilhando os EUA e preparando o palco global para uma invasão a Taiwan. Sete meses depois, a guerra prolongada desestabilizou a Eurásia e revigorou a aliança ocidental. Ainda que o enfraquecimento da Rússia aumente sua dependência de Pequim, a “amizade” está se mostrando um embaraço.

Os 300 mil reservistas impressionam. Mas levará meses até que sejam treinados e façam diferença no campo. A narrativa de que a guerra é só uma “operação militar especial” que os russos poderiam celebrar sem sacrifícios está desmoronando. Mesmo sob a propaganda e a opressão ostensivas do Kremlin, os protestos começam a pipocar.

Putin fabricará seus referendos fraudulentos para legitimar uma anexação e o uso de armas nucleares contra uma “invasão” de seus territórios. Também conta com o inverno para pressionar a Europa a forçar a Ucrânia a fazer concessões. A guerra é da Ucrânia, e cabe a ela decidir se e quando negociar. Mas este não é o momento.

Sem dúvida um autocrata megalomaníaco acuado e armado com arsenais nucleares é um risco para a Ucrânia, para o mundo e para seu próprio povo. Mas seu terrorismo não pode ser premiado. A estratégia da Ucrânia e seus apoiadores está funcionando. Seria decisivo concertar com Índia e China um cordão sanitário que dissuada Putin de extrapolar seu desvario com armas de destruição em massa. No campo, é hora de acelerar a entrega de armas e aproveitar a tração das tropas ucranianas e o moral baixo das russas para conquistar posições. Manter o sangue-frio, mas galvanizar a determinação é o melhor caminho para convencer o povo russo de que ele está perdendo a guerra e não pode vencê-la.

Notas&Informações, O Estado de S.Paulo

Leave a Reply

Your email address will not be published.