Com o intuito de esclarecer como será seu eventual governo, incluindo sua agenda econômica, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou na noite de quinta-feira (28/10) uma carta intitulada Carta para o Brasil do Amanhã. O documento foi recebido com ânimo por investidores da Faria Lima, que logo reverteram euforia pela falta de clareza sobre metas fiscais, enquanto há menção sobre subsídios e aumento dos gastos públicos para alavancar a infraestrutura.
Recebida com algum ânimo na “Faria Lima”, o coração do mercado financeiro brasileiro, as casas de investimento logo mudaram de humor. A explicação é que o documento não esclarece quais são as metas fiscais anuais do possível novo governo de Lula.
“Como via de regra, o mercado prefere uma certeza ruim se comparado a uma incerteza. E segundo, a carta do ex-presidente Lula, a impressão que passa para a Faria Lima, de forma geral, é a certeza de uma incerteza”, disse Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.
Calestine enumerou dois pontos principais da “incerteza” que há na carta de Lula: “Além de não sabermos quem seriam os ministros indicados pelo presidente, também não sabemos do ponto de vista prático de como ele e sua equipe equilibrarem as contas públicas ao passo que estenderam as ajudas e pacotes de auxílio às populações de baixa renda e mais fragilizadas”.
“Ontem [quinta, 27/10], nós tivemos um primeiro movimento bem rápido de aceno positivo do mercado à carta após a publicação, bolsa para cima e dólar para baixo. Depois que a carta foi lida, o dólar devolveu a queda e o índice devolveu a alta, justamente pela dúvida que pairou no ar”, completou.
Lula e o teto de gastos
O mercado também tem dúvidas sobre qual será a âncora fiscal adotada pelo potencial novo governo, já que o teto foi reiteradas vezes atacado por Lula. Além disso, como noticiado pelo Metrópoles, o PT deverá propor uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para reformar o teto de gastos.
“A Faria Lima recebeu muito bem, a princípio [a carta]. Porém, ao ver o conteúdo, o otimismo desapareceu. O que se avaliou negativamente foram as ideias de subsídios, ou seja, os gastos sociais deverão ser elevados. A questão que ficou foi qual será a âncora fiscal do país [em um governo de Lula]? Qual será a ferramenta para o Brasil ter credibilidade fiscal?”, questionou Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
O documento pode ter sido um “banho de água fria” quanto às reformas que o mercado almeja ao país. “No contexto atual de crise, a gestão econômica, ao que tudo indica, seguirá uma incógnita até o ‘day after’ das urnas”, explicou Danilo Morais, professor de ciência política da pós-graduação do Ibmec-DF.
A carta
O documento divulgado por Lula conta com propostas de governo e detalha os planos após críticas de que o plano apresentado no início das eleições seria genérico. “Esta não é uma eleição qualquer. O que está em jogo é a escolha entre dois projetos completamente diferentes para o Brasil”, começa a carta.
O documento descreve o atual governo com termos como “país do ódio”, “do racismo”, “da homofobia” e “do apreço à ditadura e aos torturadores”. Enquanto isso, o Brasil de Lula é descrito como “país da esperança”, “dos salários decentes”, “da comida no prato” e “do compromisso inabalável com a democracia”.
O documento ainda cita medidas para desenvolvimento econômico, social, sustentável, educação, saúde, habitação e infraestrutura, segurança, cultura e esportes, direitos humanos, reindustrialização, agricultura, política externa, democracia e liberdade.
O documento”pincela” como será a condução do Ministério da Fazenda, caso o petista vença o segundo turno em 30 de outubro. Em aceno ao mercado e a fim de apaziguar as desconfianças sobre sua candidatura sobre uma eventual política fiscal “irresponsável”, a carta fala em “regras claras e realistas” e em compromissos “plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação”.
O plano cita a combinação de responsabilidade fiscal e social com desenvolvimento sustentável, seguindo as “tendências das principais economias do mundo”. O trecho faz referência à agenda ESG (sustentabilidade, social e governança, na sigla em inglês), que os países desenvolvidos vem adotando a fim de melhorar o bem-estar de cada economia de mercado.
A agenda petista com viés desenvolvimentista é pautada no resgate de obras estruturantes que deverão ser decididas junto aos governadores estaduais. A retomada na construção civil, ou seja, na infraestrutura, é uma forma de acelerar a geração de empregos, setor que emprega mais rápido, mas também um aceno às empreiteiras.
Fonte: Folha Press
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