Natasha Slhessarenko**
Febre maculosa brasileira é uma doença infecciosa, febril, de gravidade variável e que acontece em praticamente todo o mundo. Os primeiros casos da doença no Brasil datam de 1929, em São Paulo e Minas Gerais.
É transmitida por carrapatos (vetor) quando infectado por uma bactéria do gênero Rickettsia. Tem como hospedeiros animais silvestres, principalmente capivara e cavalo, e animais domésticos, como o cachorro.
Há 3 perfis epidemiológicos associados a febre maculosa:
1. Febre maculosa na região Sudeste – causado pela Rickettsia rickettsii e tem como vetor o carrapato-estrela (Amblyomma sculptum). Tem como hospedeiros animais domésticos e silvestres.
2. Febre maculosa brasileira da região metropolitana de São Paulo. Nestes casos a bactéria também é a Rickettsia rickettsii mas é outro carrapato (Amblyomma aureolatum). Cães e gatos são parasitados por carrapatos.
3. Febre maculosa causada pela Rickettsia parkeri. Ocorre em áreas de Mata Atlântica nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste. O carrapato envolvido na maior parte dos casos é o Amblyomma ovale. Animais silvestres e o cão são hospedeiros.
Todos os carrapatos são hematófagos, ou seja, alimentam-se de sangue. Para haver transmissão da doença, o carrapato infectado precisa ficar pelo menos quatro horas fixado na pele das pessoas. Os mais jovens e de menor tamanho são vetores mais perigosos, porque são mais difíceis de serem vistos. Não existe transmissão da doença de uma pessoa para outra.
Sintomas
Quando a bactéria cai na circulação causa vasculite, isto é, causa inflamação da camada interna dos vasos que se manifesta como manchas vermelhas que podem acometer o corpo todo, inclusive as palmas das mãos e plantas dos pés, o que não é comum das doenças que causam esta manifestação, que é chamada de erupção cutânea.
Junto com estas lesões de pele podem aparecer sangramentos na pele, petéquias (pintinha vermelha, do tamanho da cabeça de alfinete).
Vale ressaltar que alguns pacientes não têm estas manifestações na pele, sobretudo pacientes com rápida progressão da doença, nas formas fulminantes, em que a evolução para óbito acontece até o 6o dia de evolução.
Os primeiros sintomas aparecem de dois a 14 dias depois da picada. Na imensa maioria dos casos, sete dias depois.
A doença começa abruptamente com um conjunto de sintomas semelhantes aos de outras infecções, como a dengue e a leptospirose, por exemplo. Os sintomas mais comuns:
– Febre alta;
– Dor no corpo;
– Dor de cabeça;
– Inapetência;
– Desânimo.
Diagnóstico de febre maculosa
A reação de imunofluorescência indireta (RIFI), que detecta anticorpos IgG e IgM, é o exame padrão-ouro para o diagnóstico das riquetisioses. Até por volta do sétimo dia da doença, podem não ser encontrados anticorpos. Dessa forma, é importante que uma segunda amostra seja coletada mais tarde (por indicação do Ministério da Saúde, entre 14 e 21 dias após a primeira coleta). Outros exames podem ser realizados como a pesquisa direta da bactéria por biologia molecular ou por imunohistoquímica. Deve ser dado início ao tratamento o mais rápido possível.
Todos os casos da doença devem ser notificados ao serviço de vigilância epidemiológica.
Tratamento da febre maculosa
A febre maculosa brasileira tem cura desde que o tratamento com antibióticos (doxiciclina e clorafenicol) seja introduzido imediatamente a suspeita clínica.
Recomendações
– Evite o contato com carrapatos. Se, por acaso, estiver numa área em que eles possam existir, tome as seguintes precauções:
– Examine seu corpo cuidadosamente a cada três horas pelo menos, porque o carrapato-estrela transmite a bactéria responsável pela doença só depois de pelo menos quatro horas grudado na pele;
– Use roupas claras porque facilitam enxergar melhor os carrapatos;
-Mantenha os cabelos presos ou use boné;
– Coloque a barra das calças dentro das meias e calce botas de cano mais alto nas áreas que possam estar infestadas por carrapatos;
– Tenha cuidado ao retirar o carrapato que estiver grudado em sua pele. Retire-os com pinça ou fita adesiva, nunca com a mão;
– Nunca esmagar o carrapato com as unhas pois pode liberar bactérias que infectaram outras partes do corpo;
Não se esqueça de que os sintomas iniciais da febre maculosa são semelhantes aos de outras infecções e requerem assistência médica imediata. Esteja atento ao aparecimento dos sintomas, nunca se automedique e procure um médico.
** Natasha Slhessarenko é patologista, pediatra, docente da UFMT e conselheira do CFM.
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