No depoimento do ex-secretário de Saúde de Cuiabá Célio Rodrigues da Silva, preso na Operação Hypnos, que investiga suposto desvio de recursos públicos na Secretaria Municipal de Saúde, o ex-gestor afirma que não houve fraude na compra das 9 mil unidades de midazolan. Porém, admitiu que a aquisição do medicamento foi feita de maneira ‘atípica’ por se tratar de um período pandêmico e relatou ter ficado ‘surpreso’ com a prisão.
As declarações de Célio foram feitas durante audiência de custódia, na quinta-feira (8), horas depois da prisão do ex-gestor ocorrida em sua residência, na Capital. Célio está preso preventivamente na Penitenciária Central do Estado (PCE) em cela especial por ter ensino superior. Além do ex-secretário, participaram do procedimento o juiz da 10ª Vara Criminal de Cuiabá, João Bosco Soares da Silva, o promotor de Justiça Carlos Roberto Zarour César e o advogado do ex-gestor, Ricardo Spinelli.
A audiência foi realizada de modo virtual. Após responder perguntas sobre os seus dados pessoais, Célio deu sua versão dos fatos. É a 1ª vez que um veículo de comunicação tem acesso a depoimento do ex-secretário.
Ao juiz, Célio negou que tenha qualquer irregularidade na aquisição do medicamento. Ele explicou que no período em que os policiais da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) apontam que houve irregularidade na compra da medicação, ele era, de fato, diretor-geral da Empresa Cuiabana de Serviços Públicos (ECSP). Célio detalhou que para a aquisição de medicamento é necessário um trâmite de vários setores da empresa. O investigado alegou ter certeza que não houve fraudes.
“As compras não eram feitas por mim. Tem um setor que fazia compras, um setor que recebia e o setor que trazia os processos prontos para realizar os pagamentos. Nenhum administrador tem autonomia do início da compra até o término do pagamento. Tenho certeza absoluta que foi comprado corretamente, que foram entregues os medicamentos, principalmente, porque era um momento bem conturbado da pandemia”, disse o ex-secretário.
Investigação
Apuração da Polícia Civil aponta que Célio e um dos diretores da ECSP, Eduardo Pereira Vasconcelos, assinaram uma transação bancária no valor de R$ 1.000.080,00 referente à compra de 9 mil unidades de Midazolan junto à empresa Remocenter Remoções e Serviços Médicos. No entanto, segundo os investigadores, não há documentação que comprove a entrada da medicação nas unidades de saúde de Cuiabá. A denúncia foi feita pelo diretor-geral interino do então Gabinete de Intervenção, Érico Pereira de Almeida, quando estava responsável pela empresa nos 9 dias em que durou a intervenção no município
Compra atípica
Por outro lado, Célio admitiu e disse que o medicamento foi adquirido de forma ‘atípica’ e que não havia muito critério para a compra do Midazolan devido à pandemia da covid-19. Ele detalhou que o produto estava em falta e que era necessário a rápida aquisição da medicação.
“As compras foram realmente um pouco atípicas, porque realmente não existia medicamentos para serem comprados. Então, não estava se escolhendo muito para comprar, porque comprava o que tinha, porque pelo o que eu li lá, fala-se midazolan. Esse medicamento mantém o paciente sedado, sem esse medicamento o paciente acorda durante a intubação. Então, foram medicamentos que foram comprados por diversas fontes. Nesse momento, foi uma falta muito grande. Isso foi mundial, nacional. Vocês devem ter acompanhado que muitas pessoas acordaram durante a intubação por falta desse medicamento”, relatou.
O investigado também citou que para a compra de medicamento no serviço público é necessário um trâmite burocrático entre vários estatais. Célio disse que o gestor da ECSP não acompanha o processo de aquisição e que o procedimento já chega pronto para que ele assine.
“Eu não me lembro das compras, porque realmente foram muitas compras, mas eu sei que fizemos compras de midazolan, sim, fizemos compras de vários outros itens. Mas, como eu disse para o senhor (juiz): eu não tenho domínio sobre o início do processo ou final do processo. O processo chega pra mim pronto praticamente. Quem faz a aquisição dos medicamentos é uma empresa, quem faz o recebimento é outra equipe, quem traz o processo para ser analisado e pago é outra equipe. Então, tem esse trâmite todo em um hospital ou em qualquer órgão público isso existe”.
Irregularidades
Durante parte do depoimento, Célio deu a entender que sabia de possíveis irregularidades na Remocenter. Entretanto, disse que não parou para analisar devido à necessidade do momento. Segundo publicado pela edição de domingo do jornal A Gazeta, existem indícios suficientes para apontar que a empresa não exista fisicamente. No local informado pelos proprietários, onde funcionaria o empreendimento, os policiais civis encontraram uma imobiliária.
O ex-secretário também lamentou o fato de não ter sido chamado para dar explicações sobre a denúncia. Ele afirmou que poderia contribuir e evitar a sua prisão.
“Como eu disse para o senhor: realmente, eu vi algumas coisas sobre empresas se tinha isso ou não na empresa, mas era um momento que não dava para escolher a empresa, a verdade é isso. Estava escolhendo se tinha medicamento ou não. Por isso que eu digo: se eu tivesse sido chamado para poder elucidar, eu teria tentado contribuir, porque assim mesmo que não encontre o processo tem a saída dos medicamentos para os pacientes. É só pegar o período e verificar que os pacientes foram medicados com esse medicamentos. Como era tão pouca a compra, como era tão difícil comprar vai ser muito fácil localizar se foram disponibilizados esses medicamentos na rede”, afirmou.
Durante a custódia, o advogado Ricardo solicitou a concessão da liberdade provisória de Célio. Mas, o juiz João Bosco negou o benefício e ele continua à disposição da Justiça na PCE, em Cuiabá.
Fonte: Gazeta Digital
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