Por Fábio Porchat — Rio de Janeiro
O Paulo me fazia feliz. O sentimento imediato que me tomava quando eu o encontrava era o de felicidade. Como se meu coração sorrisse. Meu abraço de “Oi” era sempre apertado, exagerado, como que tentando abarcá-lo inteiro. Eu me desarmava de tudo, era uma chave que ligava no meu cérebro dizendo que nada mais importava.
Quando eu estava ao lado do Paulo, parecia que tudo estava bem. Como era bom encontrá-lo. Não só porque ele era a pessoa mais engraçada que eu já encontrei na vida (a pessoa jurídica o Brasil conhecia muito bem, mas aqui estou falando da pessoa física), mas também porque o nosso encontro simbolizava uma caminhada que iniciamos juntos, de mãos dadas, lá atrás, na escola de teatro. E, em cada momento desses, algo no nosso olhar indicava que pensávamos a mesma coisa: Deu certo. Conseguimos.
Toda vez que nos encontrávamos, entendíamos que tudo tinha começado numa certa escadaria em Laranjeiras, que vivemos grudados por três anos para conseguir chegar até ali e que estávamos orgulhosos um do outro. Nós nascemos juntos, nos descobrimos comediantes juntos, demos a largada juntos…
Quando nossos olhares se cruzavam em algum restaurante, em alguma festa, na rua, nem que por apenas um segundo, sorríamos, e nesse flash ficávamos felizes de saber que o outro estava ali e tinha conseguido passar da arrebentação. Era como se cuidássemos um do outro à distância.
Não ter mais esse olhar é devastador. Saber que ele não está aqui me desestabilizou de um jeito que eu não imaginava. Cadê meu parceiro? Aquela metade que me dizia que tava tudo bem? Ainda me assusto quando penso que não vou encontrá-lo sem querer jantando no Leblon. Não tenho mais aquela pessoa, a única pessoa que sabia como foram aqueles anos iniciais. Rir é resistência, mas está difícil rir sem você, meu amigo. Difícil demais. Que sensação horrível é me lembrar que não tem mais você. Toda vez que vejo a sua foto me espanto. Não é possível. Que loucura.
‘O Brasil ficou órfão’
Não era pra ter sido assim. Claro que ele permanecerá vivo em sua obra. Pra sempre. Mas eu queria a pessoa física aqui pra me fazer feliz, me acalmar e me lembrar de tudo. Queria aquela gargalhada barulhenta de boca aberta e cabeça jogada pra trás. Queria ficar tentando te convencer de ir no meu programa. Queria te mandar as mensagens escrotas de aniversário. Queria te fazer rir. Queria ter estado mais próximo nesses últimos anos. Queria ter te ligado no hospital. Queria que você tivesse saído do hospital. O Brasil ficou órfão de sua mãe. Eu perdi um pedaço importante de mim mesmo. Sempre que me lembrar de como tudo começou, em algum momento, a alegria vai dar espaço para a tristeza porque não tenho mais do lado aquele que me ajudou a chegar até aqui. Te amo, Paulito. Que loucura…
Fábio Porchat é humorista e apresenta o programa “Que história é essa Porchat?”, no canal GNT
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