Membros da elite política e empresarial de Sinop, no norte de Mato Grosso, têm apoiado o bloqueio de estradas e o fechamento do comércio em reação à derrota eleitoral do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Os atos na cidade, onde homens armados atearam fogo em caminhões, são incentivados por uma ex-prefeita, pelo presidente da Câmara de Vereadores e outras autoridades.
Um dos suspeitos pelo atentado, que foi preso pela PF (Polícia Federal), organizou uma interdição na BR-163, que corta a cidade. Um vídeo obtido pelo UOL Notícias, gravado após o segundo turno, mostra ele em um caminhão ao lado do vereador Elbio Volkweis (Patriota), que chefia o Legislativo municipal, e da ex-prefeita Rosana Martinelli (PL), suplente do senador Wellington Fagundes (PL).
A cidade de Sinop deu 76,95% dos votos a Bolsonaro no segundo turno, contra 23,05% do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os bloqueios na rodovia começaram já no dia 30 de outubro, horas após o encerramento da eleição, e acabaram em 4 de novembro. As interdições, contudo, retornaram na semana passada, e só foram novamente desfeitas no dia 21.
Um dos suspeitos presos pela PF devido a ataque aos caminhões é o produtor rural Olair Correia, 41. Em conjunto com outro manifestante, identificado como “Babalu”, ele vinha organizando os atos em Sinop. No vídeo em que aparece com os políticos locais, Correia pede doações em dinheiro para manter a manifestação que se formava.
Procurada, a ex-prefeita Rosana Martinelli afirmou que sempre apoiou “manifestações pacíficas e ordeiras”, mas não o bloqueio de rodovias federais. “Sempre lutei pela liberdade de expressão das pessoas e a liberdade de imprensa. Por isso, estou apoiando. Mas em nenhum momento apoiando obstrução de pista ou que impeça o direito de ir e vir”, respondeu.
Martinelli diz repudiar também o incêndio dos caminhões no último dia 21. “Não compactuo com vandalismo. Não apoio a atitude dele”, declarou. O UOL Notícias também tentou contato com o presidente da Câmara de Vereadores de Sinop, Elbio Volkweis, mas não teve retorno até a publicação da reportagem. Se houver resposta, ela será incluída no texto.
Fechamento do comércio. Em outro vídeo ao qual a reportagem também teve acesso, Martinelli faz o contrário do que disse à reportagem. Ela incita o comércio de Sinop a fechar as portas em protesto contra o resultado das eleições. Segundo Martinelli, a paralisação deveria perdurar “até que as provas [sobre supostas irregularidades nas urnas] sejam apuradas e acatadas”.
“Este é o momento que nós precisamos ter coragem, minha gente. E encorajar as pessoas a virem, a fecharem seus comércios. Então cada um, gente, é um trabalho de formiguinha, de conscientização. Nós sabemos, todos nós estamos cansados. Mas nós temos que ser perseverantes, gente. É tudo ou nada agora”, discursa Martinelli, que administrou a cidade de 2017 a 2020. A postura, contudo, não é isolada.
Na última segunda, mais de 200 empresários se reuniram na CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Sinop e decidiram fechar o comércio até o próximo domingo (27).
Em nota, a entidade afirmou que “não tem o poder legal ou estatutário para convocar ou promover o fechamento das empresas”, mas que defende a liberdade de cada empresário para tomar essa decisão.
Fonte: UOL
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