Fernanda Trindade***
A vida é imprevisível. Aceitar que não temos o controle absoluto das coisas pode deixar a vida mais leve. Não dá para saber o que vai acontecer, mesmo que a gente se planeje, organize tudo, as coisas só acontecem e a gente só recebe. A verdade é que a vida vai fluir, não temos como controlar as situações externas e independentemente de gostarmos ou não disso, só precisamos aceitar que não temos o menor controle das coisas.
Certa vez, ouvi uma expressão da Jout Jout que fez todo sentido: o que quer que seja, que seja massa. É isso. Só podemos torcer para que o que vier seja massa em nossas vidas. Talvez se viver com essa oração, nos consigamos sonhar de maneira mais leve e entregar ao universo.
Tá, mas não podemos planejar? Não posso mais me organizar? Não, não estou falando sobre isso, pelo contrário, sonhar e planejar é bom. Mas, estou falando sobre a excessividade, se preocupar e pautar a vida demais sobre isso, faz mal.
Sejamos francos, o planejamento detalhado e específico do jeito que sonhamos é uma utopia. Como podemos imaginar que as nossas coisas ou ideias, podem ser melhores que todas as coisas que não controlamos? Dizem que as melhores coisas da vida acontecem de repente, vêm do inesperado.
Então é isso, a vida vai fluir sempre, só precisamos aceitar o que vem depois e torcer para que seja massa.
Esses dias estava lendo mais sobre a filosofia estoica: é denominada “dicotomia estoica do controle”, o princípio mais característico do estoicismo. Devemos distinguir cuidadosamente o que é “nosso encargo“, ou seja, algo sob nosso próprio poder, e o que não é. São nosso encargo nossas escolhas voluntárias, a saber, nossas ações e julgamentos, enquanto todo o resto não está sob nosso controle.
E os estoicos usam a Analogia do Arqueiro para explicar isso. A história é a seguinte: um arqueiro está tentando atingir um alvo. Ele tem uma série de coisas sob seu controle, como o treinamento, qual arco e flecha usar, quão bem apontar e quando soltar a flecha. Então ele pode fazer o seu melhor até o momento em que a flecha deixa seu arco.
E agora, eu lhe pergunto, ele atingirá o alvo? Não sabemos. Isso porque, existe a possibilidade de uma rajada de vento, um movimento súbito do alvo, ou algo pode entrar entre a flecha e o alvo.
Só controlamos nossas próprias ações. E no caso do arqueiro estoico, ele precisa aceitar todos os resultados possíveis com tranquilidade, até porque ele fez o seu melhor e deixou o que não podia controlar para a natureza. Temos que aceitar o resultado com equanimidade.
O filósofo Rubem Alves já dizia, “a vida não pode ser economizada para amanhã”. E hoje, com experiência própria, afirmo que abrir mão de ter controle absoluto sobre as coisas é uma necessidade. A vida é bela justamente por suas incertezas. Aceite de vez essa realidade e pare de querer controlar tudo. E ainda digo mais: o que quer que seja ou venha, que seja massa.
***Fernanda Trindade é jornalista.
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