Por Pedro Sávio*
Moda com propósito e ligada a valorização do agro. Tudo parece muito confuso quando observado pela primeira vez. Mas foi o que uniu três pessoas para criação de uma nova camisaria, com peças 100% algodão rastreável de um único estado. Não, nós não colocamos coisas aleatórias num liquidificador de ideias e vontades para abrir nosso negócio, ao contrário, foram meses de estudos de mercado, planejamento, estratégias e aplicação de metas que já começamos alcançar.
Permita-me contextualizar historicamente. Em 2021 dez ciclistas se reuniram para fazer uma peregrinação de bike. O trajeto era de São Carlos até Aparecida, em São Paulo. O famoso caminho da fé. Esta via espirituosa, inspirada no caminho de Santiago de Compostela, é frequentada anualmente por milhares de peregrinos e bicigrinos e foi a pedra fundamental para uma nova jornada que reúne propósito, moda e agronegócio.
Após pedalar 536 km conheci e comecei a conversar com o Henrique Resende, em busca de uma forma de continuar o caminho. E a amizade foi construída nos sete dias de pedalada. Entre várias ideias, decidimos começar a entender algo comum que os intrigava: Porque Mato Grosso é o maior produtor de algodão no Brasil, mas não o maior produtor de vestuário? Alguém já parou para pensar sobre isso? Bom, então seguimos juntos aqui!
E com um propósito claro, mas sem muitas respostas, iniciamos a busca por pessoas dispostas a se unir pelo mesmo desafio. Tivemos a oportunidade de conhecer o produtor rural Alexandre Schenkel, que de imediato, topou o desafio. Em conjunto, fundamos a Almagrino, marca mato-grossense que valoriza o algodão brasileiro e principalmente as fibras produzidas em Mato Grosso.
O nome Almagrino, é um neologismo que significa “aquele que conduz a vida com a alma”. Ou seja, após finalizarmos o caminho da fé, continuamos o caminho da vida deixando de ser bicigrinos e nos tornando Almagrinos. Uma jornada desafiadora sem nenhuma resposta ou certeza, mas com um propósito muito claro.
Um dos grandes desafios para os três foi estudar e entender a indústria da moda. Mesmo que masculina, a moda era um universo diferente no qual mergulhamos de cabeça. Foi extraordinário quando começamos a entender como funciona a indústria têxtil, sua cadeia de suprimentos e processos produtivos. Mais extraordinário ainda foi conhecer as histórias de produtores rurais, trabalhadores do campo e da indústria que se conectaram com a nossa, o que nos faz perceber que estamos no caminho certo. Valorizar o algodão, definitivamente, é valorizar todas essas histórias.
Porém, ingressar em um mercado tão consolidado como o da moda requer uma identidade única, que traga um conceito inovador. Afinal, centenas de marcas são criadas todos os anos, e poucas sobrevivem ao universo competitivo do varejo, que já é consolidado e com muitas empresas conceituadas. A Almagrino, em contrapartida, nasceu como uma “agrifashion tech”, disposta a enfrentar paradigmas relacionados à cadeia produtiva do algodão e priorizando temas como sustentabilidade, rastreabilidade e qualidade de fibra.
Nesses dois anos, o que tem alimentado nossa construção e fortalecido nossa perspectiva de inovação é o objetivo desafiador de integrar agronegócio, moda e propósito. Isso porque, a intenção desde o início não era vender roupas. Entramos principalmente com a intenção continuar o caminho fazendo a diferença no nosso estado. Para nós, a jornada só fez sentido ao encontrarmos uma forma de materializar a vocação do Mato Grosso, que é o agronegócio, e dividir esse valor com instituições locais. Muito antes de comercializarmos produtos, firmamos o compromisso de doar parte de todas as vendas para a creche Nina Zaque que proporciona a educação de uma turma de 80 crianças em situação de vulnerabilidade.
Atualmente possuímos uma loja física em Cuiabá e parceiros pelo interior de Mato Grosso. Com menos respostas do que quando começamos, mas uma visão muito clara: continuar valorizando o algodão brasileiro e contribuído com todas as histórias que fazem parte dessa grande cadeia nacional responsável.
Portanto criar algo inovador requer coragem e principalmente seguir os próximos passos com a alma, com fé para encontrar as respostas construídas a cada nova etapa. A Almagrino é apenas uma semente, plantada no terreno fértil do agronegócio e regada através da sustentabilidade e da moda consciente. É só o início.
*Pedro Sávio é gerente de uma das maiores multinacionais de Mato Grosso e sócio fundador da Almagrino.
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